segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Cultivar o Coração Activista de Jesus


Lamento imenso informá-los, trolls da Internet - mas Jesus era um guerreiro da justiça social.
E em algumas situações Ele também poderia ser muito ofensivo.
A maioria dos cristãos, pinta em suas mentes uma imagem altamente selectiva de Cristo, que geralmente faz dele uma presença plácida, estóica e passiva; Pouco mais do que um espectador silencioso e sorridente, que era acima de tudo perpétuamente simpático. Nós gostamos deste Jesus manso, bem-educado, benigno. Preferimos especialmente esta versão dEle, quando não gostamos do que estamos a ouvir de outros cristãos. No momento em que alguém, ao afirmar a fé se torna um pouco mais ruidoso, indisciplinado ou desconfortável, nós sugerimos-lhe que eles estão, de alguma forma, traindo Seu nome. Nós tentamos fazê-los comportarem-se bem, envergonhando-os.

"Eu não acredito que te intitulas cristão e ..."
A implicação é que, se estás irritado, sendo ofensivo ou abrasivo, então não está refletindo Jesus de forma clara.

Tretas.

Jesus não era um pacifista, ele era um pacificador, 


e estas são coisas muito diferentes.
Um implica a inacção, o outro compromisso.
No centro da vida e ministério de Jesus estava a ideia de fazer a paz, de criar "Shalom" para outro ser humano; Permitindo-lhes ter o mesmo acesso à plenitude, ao sustento, à justiça e à alegria como qualquer outra pessoa. No seu coração não habitava apenas um entendimento interno sobre o valor intrínseco de todas as pessoas, mas a resposta tangível no mundo em que afirmou esse entendimento, sempre que esse valor era desconsiderado.
Jesus era um activista numa miríade de maneiras:
  • Quando ele virou as mesas e expulsou os agiotas do templo.
  • Quando afirmou que Deus era soberano e merecedor de adoração, numa cultura que declarava isso sobre César.
  • Quando ele tocou a mão de um leproso em vez de expulsá-lo por causa da sua impureza.
  • Quando ele declarou publicamente que a poderosa elite religiosa era uma "ninho de víboras".
  • Quando ele curou num sábado, quando o trabalho era proibido.
  • Quando falou com uma mulher samaritana em público, no meio dia para discutir a fé com ela.
  • Quando ele declarou que o pobre e o oprimido eram seu próprio propósito de ser.

E foi este coração corajoso, sem remorsos e ativista de Jesus que lhe causou as maiores dificuldades e, em última instância, a sua execução, porque perturbou as águas dos poderosos e os religiosos que não estavam acostumados a tal turbulência.
Este é sempre o trabalho do cristão: ser uma voz perturbadora pelos que estão sem voz, mesmo que às vezes significa gritar sobre aqueles habituados a serem ouvidos, desencadeando a sua ira.
Citando o jornalista Finley Peter Dunne, 

"o dever do seguidor de Jesus é
confortar os aflitos e
afligir o confortável"
.

Este é o coração belo e complexo do Evangelho; A tensão específica de ser um extremista, mas um extremista para o Amor.

A maioria das pessoas pensa que Jesus era um pastor, mas isso é apenas uma meia-verdade. Sim, para as ovelhas ele era pastor. Para os vulneráveis, marginalizados e invisíveis, ele era o protector e o que cuidava e curava as feridas. Para eles era segurança e suavidade; Cuidador gentil e o que assegurava a tranquilidade .

Mas não para os lobos. Para os lobos, ele era outra coisa. Para estes, ele era a santa fúria de um Deus indignado, que se recusava a tolerar os maus tratos aos que foram feitos à imagem de Deus. Para os lobos ele era tão feroz, ardente e ofensivo conforme fosse preciso. 

Para os lobos, Jesus era um terror.

Em Mateus capítulo 23, Jesus repetidamente lamenta os líderes religiosos por causa da sua hipocrisia e pelo abuso sobre os que estava sob os seus cuidados e sua influência. Suas palavras eram brutais, ousadas e directas, e pode-se imaginar o senso de auto-justiça dos fariseus a ser atacado, ofendido até. 
Mas isso não era razão suficiente para ele ficar em silêncio. Seus sentimentos feridos não eram a sua prioridade. A defesa daqueles que estavam sendo vítimas era.

As palavras mordazes de Jesus eram verdadeiras, justas e redentoras, e ele não sacrificou nenhuma parte da sua natureza ao entregá-las sem suavidade ou desculpas. Não alterou uma partícula subatômica da sua bondade ao dizer essas palavras e ao ser tão enfático. Seu ativismo implacável foi o transbordar do seu coração compassivo para aqueles que estavam sofrendo, e tem que ser nosso também, se quisermos fazer qualquer reivindicação legítima em seu nome.

Não basta simplesmente ter um peso, é preciso ter um peso que nos leve a responder, mesmo correndo o risco de ser ofensivo para aqueles a quem a resposta nos coloca em oposição direta. Apesar do que alguns cristãos afirmam, a indignação e a benevolência podem habitar o mesmo espaço. Não temos de escolher uma em detrimento da outra. Na verdade, é quando se lhes permite que existam simultaneamente, que a transformação acontece dentro de nós e ao nosso redor. Esses são os dois motores da justiça redentora. Quando estivermos reproduzindo fielmente o coração plenamente expansivo de Jesus, seremos simultaneamente "ministro e ativista", "servo e guerreiro", "protectores de ovelhas e caçadores de lobos". Nós distribuiremos a gentileza e a audácia igualitariamente.

Quando a injustiça ocorre, um grupo está sendo prejudicado enquanto o outro está prejudicando, e o cristão precisa responder a ambas as partes com igual vigor. Fazer somente um, é perpetuar um Cristo tendencioso, que não O honra a Ele, ou à obra que todos nós somos chamados a fazer, a saber a criação de "Shalom" para todos os povos, não apenas para alguns.

Os cristãos nunca devem sacrificar paixão e convicção, no altar do decoro e sentimentos feridos.

Não é uma traição a Jesus viver como um activista, é de fato um abraço de seu próprio coração.
Há muito sobre o que estar indignado nestes dias, por isso deixe-se indignar e permita que a indignação seja uma catalisador.
Sim, cultive a compaixão e respeito por todas as pessoas.
Vá cuidar das ovelhas o mais suavemente possível e com tanta bondade quanto lhe for possível.
Mas quando for preciso, enfrente corajosamente um mundo ofensivo... e arrisque-se a ofendê-lo.

Diante do ódio extremo, seja um extremista de amor que não possa ser silenciado.

Em nome de Jesus, vá em frente e aborreça os lobos onde quer que apareçam; Na sua casa, na sua escola, nas ruas, na igreja, na câmara municipal, parlamento ou na presidência.
John Pavlovitz

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Cristão???







Eu sou um cristão.

Na verdade, recentemente, seria mais correcto afirmar que

 "eu ainda sou um cristão".

Agora, eu digo isso com muito tremor. Digo-o com grande fadiga. E até mesmo um pouco a contragosto. Digo-o com mais do que uma boa dose de vergonha, não de Jesus, mas de muitos do seu povo e de tantos da Igreja que afirmam falar por ele.

Olhando em volta, muito do que representa a minha tradição de fé, particularmente nesta época de eleições, tornou-se numa batalha diária fazer esta declaração, que antes era dita sem esforço, sabendo que agora esta me alinha automaticamente com aqueles que compartilham tão pouco em comum com o Jesus que eu conheci, quando aleguei pela primeira vez ter o nome de cristão.

Ele agora alinha-me com os provocadores de casas-de-banho(1), púlpitos politizados, defensores do privilégio-branco, do racismo e da intolerância, para com tantos grupos de pessoas que representam o "mundo" que eu cresci acreditando que Deus amou.

Há coisas que costumavam ser um dado adquirido de um seguidor de Jesus, não são mais.

Para demasiadas pessoas, ser um cristão não significa que você precisa de ser humilde ou perdoar. Já não significa que você precisa de um coração para servir ou trazer cura. Já não exige compaixão, misericórdia ou benevolência. Já não exige que você vire a outra face ou ame seus inimigos, tome o lugar mais baixo ou ame o próximo como a si mesmo.

Já não requer Jesus.

E assim, as opções são: abandonar a ideia de reivindicar Cristo por completo, para evitar ser considerado "odioso por associação" aos olhos de grande parte do mundo que assiste a isto; ou recuperar o nome cristão para que ele represente uma vez mais, o amor de Jesus no mundo .

Eu estou tentando fazer o último.

Sim, eu sou um cristão, mas há um tipo de cristão que eu me recuso a ser.

Eu recuso-me a ser um cristão que vive com medo de pessoas que parecem, falam, ou fazem um  culto de forma diferente do que eu.

Eu recuso-me a ser um cristão que acredita que Deus abençoa a América (ou o um país em particular), mais do que Deus ama o mundo.

Eu recuso-me a ser um cristão que usa a Bíblia para perpetuar intolerância, racismo ou sexismo, individual ou sistémico.

Eu recuso-me a ser um cristão que valoriza lealdade a uma bandeira, ou a um país, ou a um partido político, acima de imitar Jesus.

Eu recuso-me a ser um cristão relutante em denunciar as palavras de pregadores do ódio, políticos venenosos e aquecedores de cadeiras maldosos, em nome de manter a unidade dos cristãos.

Eu recuso-me a ser um cristão que tolera uma Igreja global, onde nem todas as pessoas são bem-vindas de braços abertos, totalmente celebradas e igualmente cuidadas.

Eu recuso-me a ser um cristão que fala sempre com retórica de "guerra santa" sobre uma horda inimiga invasora que deve ser enfrentada e derrotada.

Eu recuso-me a ser um cristão que é generoso com a condenação e mesquinho com graça.

Eu recuso-me a ser um cristão que não consegue ver a imagem de Deus em pessoas de todas as cores, tradição religiosa, ou orientação sexual.

Eu recuso-me a ser um cristão que exige que outros acreditem no que eu acredito, ou a viver como eu vivo, ou a professar o que professo.

Eu recuso-me a ser um cristão que vê o mundo numa espiral descendente e sem esperança, e só pode condená-lo ou retirar-se dele.

Eu recuso-me a ser um cristão desprovido do carácter de Jesus; sua humildade, compaixão, sua gentileza com as feridas das pessoas, sua atenção aos pobres, esquecidos e marginalizados, a sua intolerância para com a hipocrisia religiosa e da sua expressão clara, do amor de Deus.

Eu recuso-me a ser um cristão a menos que isso signifique viver como uma pessoa da hospitalidade, da cura, da redenção, da justiça, da expectativa que desafia a graça, do amor intuitivo. Estes valores não são negociáveis.

Sim, é muito mais difícil dizê-lo nos dias de hoje, do que jamais foi... mas eu ainda o digo.

Eu ainda sou um cristão, mas eu recuso-me, a ser um sem Jesus.



JOHN PAVLOVITZ

traduzido e adaptado por Paulo Anselmo

(1- Em alguns estados nos EUA, alguns cristãos impuseram uma lei, que cada pessoa apenas deve usar o WC publico, segundo o géneros sexual com que nasceu)


sábado, 5 de março de 2016

Evangelho e politica

 

O Evangelho não é partidário, mas é político, é para todos.
Não é de esquerda, nem de direita. Existe antes desses termos!
Preserva todas vidas, até dos mais frágeis, em detrimento da falsa liberdade duns para matar outros: fetos, crianças, velhos, animais.
 
O Evangelho respeita todos, indigna-se com todo mal, tem padrões do que é saudável e do que é deformado, mas aceita tudo e todos, não tolera elites nem explorações, defende tudo para todos, vê a mulher afligida no ocidente, mas também no oriente; crendo que a mulher é oprimida pela indumentária puritana cristã assembleiana, por exemplo, mas ainda mais pela burka e véu islâmicos e semelhantes, ainda que a escrava o negue.
 
O Evangelho abomina todas potestades desumanizantes, não formata nem estereotipa, antes, sublima as individualidades na sinergia comunitária. Não tem guerras justas nem injustas, apenas a PAZ que só pode emanar de justiça social.

O Evangelho não tem o absoluto de que tudo é relativo, mas todas as relatividades, de todas as subjectividades dos indivíduos que não oprimam, cabem no exclusivo Absoluto do Amor... 
José Maia
(adaptado por Paulo Anselmo)