sexta-feira, 3 de abril de 2015

Jesus morreu por nós... não por Deus.


"Matastes o Autor da vida, a quem Deus ressuscitou dentre os mortos"- O Apostolo Pedro, Actos 3:15 

Gólgota é onde os grandes crimes da humanidade - o orgulho, rivalidade, culpa, violência, domínio, guerra, impérialismo - são arrastados para a luz ardente do julgamento divino . No Gólgota, vemos o sistema de organização humana que nós alegremente chamamos de "civilização" por aquilo que ele é: um eixo de poder imposto pela violência, tão corrupta, que  é capaz de assassinar Deus em nome do que chama de "verdade", "justiça" e "liberdade".

Gólgota é também o lugar onde o amor de Deus alcança sua maior expressão. Enquanto Jesus é linchado em nome da verdade religiosa e da justiça imperial ele expressa o coração de Deus ao implorar pelo perdão de seus algozes. Na cruz, descobrimos que o "Deus revelado em Cristo" preferia morrer em nome do amor do que matar em nome da liberdade. Nosso Salvador é Jesus Cristo, e não William Wallace (Portugueses leiam "Padeirinha de Aljubarrota", Brasileiros leiam "Tira-dentes".)

A cruz é simultaneamente hedionda e gloriosa, ao mesmo tempo feia e bonita. É tão hedionda como o pecado humano e tão gloriosa quanto o amor divino. É uma colisão do pecado e da graça. Mas não é um concurso de iguais. No final, o amor e beleza vencem; Nós chamamos a isso "Páscoa".

O que a cruz não é, é um quid pro quo, onde Deus concorda em perdoar após receber a notificação do assassinato de seu Filho. O que a cruz não é, é uma transação econômica pela qual Deus ganha o capital para perdoar. Estes modelos jurídicos e fiscais, simplesmente não funcionam para a compreensão da cruz.

Jesus não nos salva de Deus, Jesus revela Deus como Salvador. O que é revelado na sexta-feira santa, não é uma divindade monstruosa exigindo uma virgem para ser lançada num vulcão ou um filho primogênito para ser pregado numa árvore. O que é revelado na sexta-feira santa, é a profundidade da depravação humana e a maior profundidades do amor de Deus.

Antes da cruz se é alguma coisa, é uma catástrofe. É o linchamento injusto e violento de um homem inocente. É o assassinato de Deus. Jesus é sacrificado pelo Pai só neste sentido: O Pai enviou o seu Filho ao nosso sistema de poder violento (civilização) para revelar o quão pecaminoso o sistema é - tão pecador, que ele irá matar o Inocente. Deus não queria o assassinato de seu filho, ele simplesmente sabia que isso iria ocorrer. Mas mesmo Platão sabia disso. Ao imaginar o que aconteceria com um homem perfeitamente justo em nosso mundo injusto, Platão disse: "nosso homem justo será açoitado, torturado , acorrentado ... e , finalmente , depois de todos os tipos de sofrimento, vai ser crucificado. " ( A República, Livro II , p. 37) Platão escreveu que três séculos antes de Cristo. Deus sabia o que Platão sabia. Que para Jesus anunciar e inaugurar o Reino de Deus, no meio do nosso mundo injusto e violento, exigiria um sacrifício supremo.

A morte de Jesus foi um sacrifício. Mas foi um sacrifício para acabar com todos os sacrificios, não um sacrifício para apaziguar um deus irado. Não foi Deus que exigia o sacrifício de Jesus, foi a civilização humana. Um sistema construído sobre o poder violento não pode tolerar a presença de alguém que nada lhe deve. O sacrifício de Jesus foi necessário para nos convencer a parar de produzir vítimas sacrificiais; mas que não era necessário para convencer a Deus a perdoar. Quando Jesus pede perdão na cruz, ele não estava agindo de forma contrária à natureza de Deus, ele estava revelando a natureza de Deus como Amor Perdoador.

Pense nisto desta maneira: Onde é que podemos encontrar Deus, na sexta-feira santa? Deus é encontrado em Caifás procurando um bode expiatório sacrificial? Deus é encontrado em Pilatos exigindo uma execução punitiva? Ou Deus é encontrado em Jesus , absorvendo pecado e responder com o perdão ?

O apóstolo Paulo diz que Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo a si próprio. (2 Coríntios 5:19) e isso não deve ser mal interpretado como Deus reconciliando-se ao mundo... como algumas teorias equivocadas, sobre a expiação, querem fazer crer! Jesus morreu por nós ... não para Deus.

A crucificação não é o que Deus inflige a Jesus, a fim de perdoar, a crucificação é o que Deus em Cristo suporta enquanto perdoa. A cruz é o lugar onde Deus absorve o pecado e recicla-o em perdão.

A crucificação não é a última tentativa de mudar a mente de Deus sobre nós - a Cruz é a última tentativa de mudar a nossa mente a respeito de Deus. Deus não é como Caifás buscando um sacrifício. Deus não é como Pilatos exigindo uma execução. Deus é como Jesus, absorvendo o pecado e perdoando os pecadores.

A cruz não é sobre o pagamento, a cruz é sobre o perdão .

Sexta-feira Santa não é sobre a ira divina, Sexta-feira Santa é sobre o amor divino.

Calvário não é onde vemos o quão justo Deus é, o Calvário é onde vemos quão injusta a civilização é!

Enquanto nós pensarmos que Jesus morreu para Deus, em vez de morrer por nós, nunca veremos a pecaminosidade da civilização humana e a beleza da alternativa divina: o Reino de Deus.

A justiça de Deus não é uma justiça retributiva. No fim, a justiça retributiva não muda nada. A justiça de Deus é inteiramente restaurativa. A única coisa que Deus chama de justiça é corrigir o mundo, não punir os inocentes. (Nosso senso de justiça retributiva, derivada do facto de que estamos mais punidos em  nossos pecados do que pelos nossos pecados).

A questão de fundo é esta: Deus não matou Jesus, foi a civilização humana que o fez. Nós o fizemos. Jesus absorveu o golpe no amor e nos perdoou. Na Páscoa, o Pai foi vindicado no Seu Filho. Agora Jesus nos chama a segui-Lo para o Reino da Graça, Reino de Amor... o Reino de Deus .

Sigamos o cordeiro.
Brian Zahnd

Original: http://brianzahnd.com/2015/04/jesus-died-us-god/(Arte "Golgotha" por Edvard Munch, 1900.)
Traduzido por: Paulo Anselmo