sábado, 31 de maio de 2014

Hierarquia na Igreja - Parte 2 de 5: Subjugando Outros

1º Vídeo da Série aqui




Iremos publicar semanalmente os restantes vídeos desta série, com as respectivas legendas em Português.

Se as legendas não aparecerem, executem os passos abaixo.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

A TEOLOGIA DO CAPITAL


De que forma a nação mais alegadamente evangélica do planeta (e, portanto, oficialmente a mais fiel ao espírito do Novo Testamento) acabou se tornando dentre todas a mais brutalmente consumista, mercantilista e materialista (e, portanto, a menos fiel ao espírito do evangelho e do Novo Testamento)?

Segundo Max Weber, em seu A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo (1904), a resposta à pergunta está, paradoxalmente, na teologia da própria Reforma. Tudo no nosso competitivo mundo capitalista, de telefones celulares a Big Brother, de Intel a sequilhos Daltony – passando por Tele-Sena, orkut, Danone Activia, Mae West, Pastilhas Valda, Pasta Jóia e Amado Batista – seria o inusitado resultado de uma curiosa interpretação da Bíblia sustentada por Calvino e seus seguidores. O capitalismo é uma curiosidade teológica.

Até o século XVI a retórica cristã havia defendido, com algum sucesso, os méritos da frugalidade e do desapego ao dinheiro e aos bens materiais. O sucesso deve ser considerado parcial porque desde o quarto século a Igreja como instituição achara-se despudoradamente poderosa e cada vez mais rica, e grande parte do poder subversivo da mensagem do Novo Testamento se perdera na contradição.O capitalismo é uma curiosidade teológica.

Por volta de 1500 a Igreja Católica chafurdava numa complexa rede de favores políticos e económicos, tendo lançado no mercado uma diversificada linha de produtos espirituais a fim de aumentar suas receitas materiais – linha que incluía cartões de perdão pré-pago e lotes de salvação (com vista para Deus!) com o selo de garantia do Santo Padre. Mesmo diante desse cenário, a intransigente doutrina de Jesus sobre as armadilhas do amor ao dinheiro e às riquezas havia sobrevivido na cultura e na ética popular.

Com a Reforma, tudo isso iria mudar.

Lutero começou denunciando a venda de indulgências, ao mesmo tempo em que condenava os monges como universalmente ociosos e o Papa como mãe de todas as sanguessugas. Sua tese do sacerdócio universal demonstrava como bíblica a noção de que o homem pode servir legitimamente a Deus em todas as áreas da vida civil – sendo que ninguém precisa da intermediação de um padre, sacerdote, monge ou freira para estar mais perto de Deus. Como consequência, vociferava Lutero, Deus é eficazmente glorificado na vida familiar e no trabalho honesto do dia-a-dia.

O trabalho foi portanto oficialmente redimido pelo luteranismo – porém, segundo Weber, foi a teologia mais elaborada de Calvino que acabou definitivamente mudando os pratos da balança.

A doutrina Calvinista ganhou notoriedade, também na sua época, devido a sua ênfase sem precedentes nos predestinados, aquela gente que Deus escolheu para herdar a vida eterna. Os predestinados estariam separados, segundo critérios pelos quais somente Deus poderia responder, para a salvação e o paraíso; todos os outros estariam condenados ao inferno e nada podia mudar isso, visto que a salvação não pode ser comprada (mais prejuízo para a venda de indulgências) e Deus é imutável.

Embora fosse tecnicamente impossível estabelecer se determinada pessoa era com certeza um dos predestinados, o consenso era de que a marca divina deixava evidências inequívocas de aprovação na vida da pessoa escolhida. Aqui, neste selo visível de homologação, estava o verdadeiro chamariz da coisa, porque o sucesso nos empreendimentos financeiros foi tomado desde cedo como sendo forte indicação de uma possível inclusão da pessoa entre os predestinados.

A partir de indicações como a do terceiro verso do salmo primeiro, ficou entendido que a marca distintiva do eleito estava em que “tudo quanto fizer prosperará”. Para demonstrar ser um dos perdidos bastava viver de modo indolente, descuidado e perdulário; já um sujeito austero, económico e empreendedor produzia grave evidência de que estava entre os escolhidos.

Calvino adentrou terreno ainda mais inédito ao assinalar que todos, mesmo os ricos, deveriam trabalhar. Ele fez ao mesmo tempo o que pode para desvincular riqueza de dissipação, defendendo que tanto ricos quanto pobres deveriam adoptar um modo de vida austero e temperante. O empreendedor era instado a não gastar um tostão em bens supérfluos ou carnalidades; ao contrário, deveria reinvestir cada centavo dos seus lucros de forma a financiar novos empreendimentos – precisamente como o Tio Patinhas e seu ancestral Ebenezer Scrooge, que sintetizam a ética de trabalho Calvinista. A avareza era tida como coisa especialmente nobre e altruísta.

O que os predestinados tinham ainda em comum com o Tio Patinhas é que recusavam-se por princípio a utilizar seus próprios lucros para ajudar os mais pobres a se alçarem da sua condição ou mitigarem suas agruras. Entendia-se que esse tipo de liberalidade, por mais bem-intencionada que parecesse, violava de modo irresistível a vontade de Deus, já que era somente pelo trabalho de suas próprias mãos que os mais pobres tinham como produzir evidência de que estavam entre os predestinados. A avareza era, portanto, tida como coisa especialmente nobre e altruísta.

Os empregados do empreendedor, eles mesmos calvinistas, deveriam por outro lado encarar seu trabalho como seu “chamado” – chamado que devia ser executado com diligência e alegria mesmo que a recompensa financeira e terrena fosse pequena.

Pronto: aquilo que durante a Idade Média absolutamente não se tolerava era agora encorajado directamente, e com a severa sanção da teologia revista e actualizada. A vida de cada cristão deveria ser a partir de agora uma cruzada pessoal em busca do lucro ilimitado. A riqueza e a prosperidade passaram a ser dever religioso; a generosidade, insidiosa tentação.

Nascia o que Weber chama de “ética protestante do trabalho” – visão de mundo que glorifica a diligência, a pontualidade, a economia, a austeridade e a inelutável supremacia do ambiente de trabalho.

Na Europa essa nova ética do trabalho teve que lutar contra séculos de ranço e resistência católica. Importada com sucesso para o Novo Mundo ela geraria os Estados Unidos, com seus milagres e contradições.

Ele está no meio de nós.
Paulo Brabo (via)

terça-feira, 27 de maio de 2014

Carta de Bonhoeffer


Mais um mês se passou. O tempo passa tão rápido para você quanto passa para mim aqui? Fico muitas vezes surpreso diante disso — e quando vai chegar o mês em que você e Renate, eu e Maria, e nós dois possamos nos encontrar novamente?
Tenho a impressão nítida de que eventos momentosos estão movendo o mundo a cada dia e poderiam mudar todos os nossos relacionamentos pessoais; gostaria por isso de escrever-lhe com frequência muito maior, em parte porque não sei por quanto tempo poderei fazê-lo, e ainda mais porque queremos dividir tudo um com o outro com a maior frequência e pelo maior tempo possíveis.
Chegou ao fim o tempo em que se podia dizer tudo às pessoas por meio de palavras teológicas ou piedosas.
Estou inteiramente convencido de que quando você chegar a receber esta carta grandes decisões já estarão colocando as coisas em movimento em todas as frentes. Durante as próximas semanas precisaremos de grande força interior, e é isso que desejo para você. Devemos todos manter as mentes lúcidas, de modo a que nada nos assuste.
Em vista do que está por vir estou quase pronto a citar o δει bíblico, e sinto que “anseio olhar”, como os anjos em 1 Pedro 1:121, a fim de ver de que modo Deus irá resolver o aparentemente insolúvel. Creio que Deus está prestes a realizar alguma coisa que, quer façamos parte dela de forma aparente ou oculta, seremos capazes apenas de receber, com a maior maravilha e assombro. De algum modo ficará claro — para os que tiverem olhos para ver — que o Salmo 58:11b2 e o Salmo 9:19-203 são verdadeiros; e teremos de repetir Jeremias 45:54 para nós mesmos todos os dias.
É mais difícil para você passar por isso separado de Renate e do seu menino do que é pra mim, pelo que penso em você especificamente, como estou fazendo agora. Parece-me que seria muito mais fácil, e para nós dois, se pudéssemos passar por isso juntos, ajudando um ao outro. Mas é provavelmente “melhor” que não seja assim, e que cada um de nós o enfrente sozinho. Acho difícil não poder ajudá-lo em coisa alguma — exceto pensando em você de manhã e à noite quando leio a Bíblia, e com frequência durante o dia também.
Você não precisa se preocupar comigo de forma alguma, porque estou levando incomumente bem — você ficaria surpreso se viesse me ver. As pessoas aqui vivem me dizendo (e como você vê, sinto-me muito lisonjeado com isso) que “irradio tanta paz ao meu redor” e que “sou sempre tão alegre” — de modo que os sentimentos muito distintos desses que às vezes me assombram devem, estou achando, basear-se numa ilusão (não que eu de alguma forma acredite nisso!).
Se a religião era uma forma transitória e historicamente condicionada de auto-expressão humana, o que isso quer dizer para o cristianismo?
Você ficaria surpreso, e talvez até preocupado, se soubesse que rumo estão tomando minhas reflexões teológicas; e é aqui que sinto mais falta de você, porque não conheço ninguém mais com quem poderia discutir essas coisas a fim de ter meu pensamento aclarado.
O que me tem incomodado incessantemente é a questão de o que de fato o cristianismo é, ou ainda quem de fato Cristo é, para nós hoje. Chegou ao fim o tempo em que se podia dizer tudo às pessoas por meio de palavras teológicas ou piedosas, e terminou também o tempo da introspecção e da consciência — e portanto o tempo da religião em geral. Estamos progredindo rumo a uma era completamente isenta de religião; da forma como são agora, as pessoas são simplesmente incapazes de serem religiosas. Mesmo os que se descrevem como religiosos não agem de forma alguma em conformidade com isso, e devem portanto estar se referindo a algo muito diferente com esse “religioso”.
Os mil e novecentos anos de pregação e teologia cristãs estão inteiramente embasados no conceito de uma religiosidade inerente à raça humana. O “cristianismo” foi sempre uma manifestação — talvez a verdadeira manifestação — de “religião”. Mas se um dia fica claro que esse “inerente” não existe de forma alguma, mas tratava-se de um forma transitória e historicamente condicionada de auto-expressão humana, e se o homem torna-se em consequência disso radicalmente irreligioso — e creio que seja mais ou menos esse o caso (do contrário como explicar, por exemplo, que esta guerra, em contraste com todas as anteriores, não está produzinho qualquer reação “religiosa”?) — o que isso quer dizer para o “cristianismo”?
Quer dizer que foi removida a fundação de tudo que havia sido até agora nosso “cristianismo”, e que restam uns poucos “últimos sobreviventes da era dos cavaleiros”, ou uns poucos sujeitos intelectualmente desonestos, dos quais podemos descender como “religiosos”. Serão esses os poucos escolhidos? Será contra esse dúbio grupo de pessoas que deveremos arremeter com zelo, ressentimento ou indignação, a fim de vendermos a eles os nossos bens? Devemos atacar um punhado de gente infeliz em sua hora de necessidade e exercitar sobre eles uma espécie de compulsão religiosa? Se não queremos fazer tudo isso, se nosso julgamento final deve ser que a forma ocidental do cristianismo foi, também ela, apenas um estágio preliminar para a completa ausência de religião, que tipo de situação emerge para nós, para a igreja? Existem cristãos sem religião? Se a religião é apenas uma vestimenta do cristianismo — e se mesmo essa vestimenta já teve diferentes aspectos em diferentes épocas — o que é então um cristianismo sem religião?
E se a forma ocidental do cristianismo foi apenas um estágio preliminar para a completa ausência de religião?
Barth, o único a começar a trilhar essa linha de raciocínio, não levou-a até o final, mas chegou ao positivismo da revelação, que em última análise é essencialmente uma restauração. Para o trabalhador comum sem religião (ou para qualquer outro homem) não há lucro algum aqui. As perguntas a serem respondidas devem ser certamente as seguintes: o que significam uma igreja, uma comunidade, um sermão, uma liturgia, uma vida cristã, num mundo sem religião? Como se fala de Deus sem religião — isto é, sem as pressuposições temporalmente condicionadas de metafísica, introspecção e assim por diante? Como se fala (ou talvez agora não possamos nem mesmo “falar” do modo como estávamos habituados a fazer) de um modo “secular” sobre “Deus”?
Em que sentido somos cristãos seculares e sem religião, em que sentido somos a “ek-klesia”, os que são convocados, sem olharmos para nós mesmos de um ponto de vista religioso como especialmente favorecidos, mas ao contrário pertencendo ao mundo de modo completo? Nesse caso Cristo não é mais um objeto de religião, mas algo inteiramente diferente: é realmente o Senhor do mundo. Mas o que isso quer dizer? Qual é o lugar de adoração e de oração numa conjuntura sem religião? Assumirá a disciplina secreta, ou alternativamente a diferença entre o último e o penúltimo, uma importância nova nesta situação?
Como se fala de um modo “secular” sobre “Deus”?
Preciso parar por hoje, para que a carta posso partir imediatamente. Devo escrever de novo dentro de dois dias. Espero que você entenda mais ou menos o que estou querendo dizer, e que não ache muito enfadonho. Adeus por enquanto. Não é sempre fácil escrever sem um eco, e você deve me perdoar se isso faz das minhas cartas algo como um monólogo.
Penso muito em você.
Seu Dietrich

Dietrich Bonhoeffer a Eberhard Bethge,
do campo de concentração de Tegel
30 de abril de 1944 

(via, que por sua vez surrupiou do Paulo Brabo)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

OS DESIGREJADOS TAMBÉM CONGREGAM?


Durante toda minha vida fiz parte de uma igreja tradicional. Nasci, fui batizada, cresci, fiz amigos e casei ali dentro. Meus pais também trilharam este mesmo caminho. A família do meu esposo idem. Crescemos intrinsecamente ligados a esta grande família, portanto, falo com conhecimento de causa. Há cerca de quatro anos passamos por algumas situações difíceis dentro desta comunidade. Sofremos decepções e vimos pessoas queridas sofrendo também. Ouvimos coisas que jamais pensaríamos ouvir dentro de uma igreja e, diante de todos estes fatos, nos vimos encurralados. Não acreditávamos mais na instituição, e pior, ela nos parecia mais um empecilho do que uma facilitadora do Evangelho. Vidas estavam sendo machucadas para que a imagem do líder religioso se sobressaísse. O dilema era grande: "Tantos anos sendo parte desta família, tantas lembranças, tantas pessoas amadas... Como se desvencilhar desse laço?" A decisão não foi fácil, mas as circunstâncias nos levaram a isso. Nossos pais e avós sofreram bastante. Alguns amigos também. A nossa dor na verdade não foi a de sair oficialmente da instituição religiosa (pois já estávamos emocionalmente desvinculados a ela), mas a de presenciar a dor da família e de amigos tão queridos.
Nesta dura caminhada perdemos o contato de pessoas amadas, que nos viram nascer, crescer e formar família. Conheciam a nossa história, nosso caráter, nossos trabalhos enquanto casal, mas não aceitaram as denúncias que fizemos e o nosso desligamento. Encararam como ato de rebeldia, fraqueza e falta de persistência. Mas no fim, descobrimos que o nosso caso era apenas mais um entre os milhares que se decepcionam e desacreditam da instituição todos os dias. Neste tempo, conhecemos muitas pessoas que estavam na mesma situação que a nossa. Nos unimos a elas em busca de força e orientação. O Pai foi bondoso nos enviando verdadeiros amigos. Nossa fé cresceu, se fortaleceu e amadureceu. Foi aí que conhecemos o termo "desigrejados", apelido dado àqueles que, por terem se decepcionado com o sistema religioso e sua liderança, resolvem partir para o outro extremo. No início, a dor e amargura nos fizeram ficar cegos e desacreditados de tudo o que se relacionava a religião. Por isso nossa busca por algo simples e mais informal possível, sem estruturas, regras ou doutrinas. A sede era de viver o Evangelho puro e simples, e só.
Durante essa busca, encontramos um grupo mais do que especial, formado por pessoas que estavam na mesma situação que a nossa. Era como um oásis em terra seca, um refrigério para alma. Hoje são amigos queridos, mais chegados que irmãos. Deus não nos desamparou em nenhum momento. Além disso, encontramos mestres excepcionais que nos alimentaram da Palavra como nunca antes havíamos sido alimentados. Eram pratos e pratos de "feijoada" toda semana. Como aprendemos! Quer dizer... ainda estamos aprendendo!
Veja bem, não quero com esse texto denegrir alguma instituição ou expor os fatos que nos levaram ao desligamento, não! O meu desejo é o de esclarecer algo que durante muito tempo esteve oculto para nós, e que hoje, nos é tão óbvio e nos faz tão bem. A minha esperança é que este testemunho alivie o sofrimento e traga ânimo àqueles que estão passando ou já passaram por situação semelhante.
Sempre acreditei, desde muito pequena, que um cristão verdadeiro não poderia jamais trocar um culto de sua igreja por qualquer outro evento (sem boa justificativa), e que tal atitude consistia em pecado grave. Ninguém nunca nos disse isso claramente, com todas as palavras, mas no decorrer da história captamos as mensagens subliminares que nos eram lançadas dos púlpitos, aulas de estudo bíblico e do próprio testemunho de vida de nossos amigos e familiares. Nossa mente foi sendo aos poucos cauterizada. Não creio que tenham feito por maldade, mas simplesmente por acreditarem ser esta a verdade ou por medo de perderem ovelhas... Estou apenas supondo. Enfim, depois de todo o reboliço e decepções que enfrentamos, despertou em nós uma fome imensa de conhecer a Palavra. Dia após dia descobríamos uma nova verdade que havia sido encoberta pela religião. A sensação era a de ter acordado de um transe. Isso mesmo! Parecíamos novos convertidos. Estava tudo ali, bem na nossa frente, claro como água! Como nossa mente pôde estar tão cauterizada a ponto de não entendermos tamanha obviedade?
Mas não foi tão fácil assim: "Vocês estão sendo rebeldes! Nenhuma igreja é boa para vocês! Estão cegos, foram enganados! Voltem enquanto é tempo! A caminhada de vocês não vai prosperar enquanto não voltarem! Seus filhos precisam ser criados dentro de uma igreja, ter consciência do que é altar e púlpito!"
Mas era tarde... A venda já havia sido retirada de nossos olhos: "Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia". Hebreus 10:25
Descobrimos que Jesus nunca nos exigiu nome no rol de membros de uma instituição religiosa, frequência em Escolas Bíblicas Dominicais, presença nos cultos vespertinos e matutinos e tantas outras coisa que a denominação nos exige. Quanto mais estudávamos os Evangelhos e as cartas de Paulo, mais percebíamos o quanto andamos cegos e limitados pela religião. A sensação era de indignação e ao mesmo tempo de liberdade. Uma vontade louca de alertar aqueles que ainda permaneciam no "transe": "Acordem, pelo amor de Deus! Essa é a Verdade, Verdade que liberta! Esta é a graça, Nele somos livres! Não podemos nos colocar novamente sob jugo de escravidão..." Mas todas as nossas tentativas foram frustradas. Entendemos então que o trabalho de despertar era do Pai, e não nosso. Descansamos.
E foi em meio a todo esse conflito que o Pai nos fez acordar para o campo pronto para colheita que estava aqui, bem ao nosso lado. Meu Deus, como estávamos cegos! Tantas vidas sedentas ao nosso redor... Iniciamos então um grupo de Estudo Bíblico com casais e crianças aqui no condomínio em que moramos. Sem religião, sem doutrina, sem placa... Percebemos o quanto placa divide igreja e quanto a falta dela nos une. O Senhor foi acrescentando vidas ao grupo, distribuindo dons, nos fazendo viver a sua igreja aqui na nossa vizinhança. Esse trabalho já dura praticamente três anos, e hoje contamos com mais de 40 pessoas entre crianças, adolescentes e adultos, vivendo a verdade em amor.
"Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a qual vocês foram chamados é uma só; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos. E a cada um de nós foi concedida a graça, conforme a medida repartida por Cristo. Por isso é que foi dito: "Quando ele subiu em triunfo às alturas, levou cativo muitos prisioneiros, e deu dons aos homens". Efésios 4:4-8
"Mas Dani, e se surgirem conflitos de doutrina?" Simples, o Senhor nos deixou apenas dois mandamentos: "Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo... faze isso, e viverás." Lucas 10:27-28". Se cumprimos estes mandamentos, cumprimos todo o restante da Lei: "Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás falso testemunho, não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De sorte que o cumprimento da lei é o amor." Romanos 13:9-10
"Mas vocês são submissos a quem? Quem enviou vocês? Quem é líder da comunidade? Quem disciplina?"
Perguntas típicas de quem ainda está com a mente cauterizada pela religião... Quem distribui os dons não é o próprio Cristo? Pois então. Temos pastores em nossas vidas, pessoas que nos aconselham, choram conosco, nos advertem e nos levam em direção ao verdadeiro Pastor. Quem disse que precisam ser da mesma denominação que a nossa? Na Palavra não existe esta condição. Temos também mestres Batistas, Metodistas, Presbiterianos, sem denominação...  E aqui em nossa pequena comunidade, o Espírito tem distribuído dons conforme lhe apraz. Temos visto florescer pessoas com o dom de ensinar a Palavra, ministrar à crianças, outros com o dom de aconselhamento, finanças, teatro... Não é diploma ou faculdade que nos diz quem é pastor, mestre, conselheiro, ajudador ou administrador, mas a própria comunidade reconhece na caminhada os dons distribuídos pelo Espírito de Deus. A faculdade ou curso pode até acontecer, mas apenas como instrumento de aperfeiçoamento de um dom já existente:
"E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro.
Além deste grupo, nos reunimos semanalmente com uma outra turma de amigos para estudar a Palavra, compartilhar, orar uns pelos outros, enfim, nos fortalecer na fé. Ali temos pessoas que frequentam diferentes denominações, e mesmo assim congregamos, isso é fantástico! O congregar vai muito além de um ajuntamento denominacional semanal. Ele fala de transparência nos relacionamentos, carregar a carga uns dos outros, ser suporte para o irmão, conhecer a aflição, chorar junto, edificar vidas com o dom que recebemos do Pai: "Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo. Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas, cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada parte realiza a sua função." Efésios 4:11-16. Ou seja, não precisamos estar presos a uma denominação para colocar em prática o congregar, assim como não há problema algum em congregar dentro de uma. Como foi libertador descobrir isto!
Para nós, não existem mais sábados ou domingos, pois todos os dias são do Senhor. Aqui no condomínio nos encontramos às quartas a noite. Neste outro grupo, que carinhosamente chamamos de "igreja do Pão de queijo", nos encontramos às sextas-feiras. Além disso, servimos em uma missão que trabalha com crianças carentes aos domingos pela manhã. Nunca congregamos tanto! Estamos mais firmes na fé do que nunca! Por isso posso dizer com toda a convicção do meu coração que congregar não exige do cristão estar ligado a uma instituição religiosa, mas creio também que um cristão de verdade não existe sem o congregar. Aquele que está em Cristo é aperfeiçoado através dos relacionamentos, não pode caminhar sozinho. Não sou contra as denominações, aliás, muitas delas exercem um trabalho fantástico e vivem a verdadeira igreja, não permitindo que a estrutura passe por cima das vidas. Conheço pastores que colecionam diplomas e são cristãos exemplares! Não há nada de errado nisso, desde que se viva e pregue o Evangelho genuíno. Não levanto uma bandeira contra a instituição, de forma alguma, mas enquanto ela estiver sendo empecilho para a propagação do Evangelho, deve ser removida do caminho para que as pessoas consigam chegar ao Caminho.
Foi o que aconteceu conosco. Em um dado momento ficamos travados em nossa caminhada e ministério por conta da denominação. Vidas estavam sendo machucadas. Por isso decidimos tirá-la de nosso caminho. Mas que fique claro que nosso caso não é regra. Cada um deve entender sua própria situação e buscar respostas e direção em Deus. Se o teu chamado é dentro de uma denominação, amém. Viva a igreja de Cristo lá dentro! Somos todos parte de um mesmo corpo, onde há apenas uma cabeça, que é Cristo Jesus. A Igreja é feita de pessoas e não de tijolos, e está espalhada por toda a face da Terra. Não podemos permitir que a religião nos divida enquanto corpo. Quando meu marido e eu excluímos nosso nome do rol de membros da igreja Metodista, não deixamos de ser irmãos. Ainda compartilhamos da mesma fé, apenas congregamos em locais diferentes. Nosso foco permanece o mesmo, e o amor também.
"Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão". Gálatas 5:1.
O conselho que deixo aos leitores é: Examinem as Escrituras para não serem enganados. O amor a Deus e ao próximo é o cumprimento de toda a lei, portanto, uma regra, tradição ou doutrina não deve jamais passar por cima de uma vida! Olhem ao redor e vejam os campos prontos para colheita. Não se feche em sua comunidade a ponto de não enxergar aqueles que perecem lá fora. Se você está em Cristo, tem o dever de anunciar a Boa Nova do Evangelho àqueles que ainda não a conhecem. Cristo veio para os que estão enfermos e o "Ide" é para todos os que creram e receberam seu Espírito:  "...assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós." João 20:21 "Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." Mateus 28:19
Batistas, Metodistas, Presbiterianos, Pentecostais, Católicos ou sem-denominação... Não importa mais. Somos todos parte de uma mesma igreja, a Igreja do Cristo ressurreto. A nossa religião é só uma: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo, conforme Tiago 1:27. É momento de nos unirmos por aquilo que temos em comum e retirar do caminho tudo aquilo que vem para nos dividir. Hoje entendo que não somos e nunca seremos desigrejados. Para aquele que entendeu a Cruz e creu no Evangelho da Salvação, caminhar sozinho não é uma possibilidade. O congregar faz parte de sua vida, estando ele fora ou dentro de uma denominação.
E se você é daqueles que ainda acreditam que excesso de liberdade gera libertinagem, então não entendeu a Verdade que liberta. Quando me libertei das amarras da religião, me vi presa ao amor do Pai. O escravo obedece por medo de ser castigado, o filho obedece porque é cúmplice do amor do Pai. É nessa liberdade que hoje vivo e caminho, para a Glória do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo!

Dani Marques (via)

domingo, 25 de maio de 2014

Hierarquia na Igreja - Parte 1 de 5 : Um Conceito Muito Prejudicial




Iremos publicar semanalmente os restantes vídeos desta série, com as respectivas legendas em Português.

Se as legendas não aparecerem, executem os passos abaixo.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

As 10 bem-aventuranças - do monte da Galileia para o monte do Golgota

                         
        

                       As bem aventuranças - o Decálogo do Messias

Em Mateus 5, vemos Jesus num monte da Galileia, a proferir sua síntese do Reino dos Céus, que é o Reino de Deus, começando com seu Decálogo de 10 bem-aventuranças, as quais se explicarão, mas antes vejamos como Jesus chega ao Monte:

Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que diz:
A terra de Zebulom, e a terra de Naftali, Junto ao caminho do mar, além do Jordão, A Galileia dos gentios;
O povo, que estava assentado em trevas, viu uma grande luz; aos que estavam assentados na região e sombra da morte, a luz raiou.
Desde então começou Jesus a pregar, e a dizer: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. - Mateus 4-14-17

Ora na Galileia começara o juízo de Deus sobre seu povo, pois quando Israel se desvia em suas idolatrias, Deus através de seus profetas pede arrependimento e avisa que virá juízo sobre o não arrependimento das muitas mazelas psiquico-sociais, que Israel trazia à sua própria sociedade, que deveria ser a comunidade do amor da Lei de Deus.
Como sabemos, o reino de Israel dividiu-se após a morte de Salomão, em reino de Israel ao norte e reino de Judá ao sul.
Israel, o reino do norte, perverteu-se mais rapidamente que Judá.  Deus enviou seus profetas a ambos estados e sociedades. 
Mas Deus começou por exortar Israel, pois este se perverteu mais rapidamente. Depois Deus também exortou a Judá. Nenhum dos reinos se arrependeu, pelo que Deus teve de os julgar e corrigir. Israel foi o primeiro a ser corrigido, sendo levado para o cativeiro atroz da Assíria.
Mais tarde é também Judá que vai para o cativeiro, pelas mãos dos babilónios.

No Reino de Deus há juízo, ainda que muitos líderes e referências espirituais falem do contrário. Por causa do legalismo, fanatismo e outros paradigmas farisaicos de acusação sem graça e perdão do amor, alguns indivíduos que amam a metafisica e as coisas espirituais, caíram no outro oposto de dizer que Deus não exerce juízo, o que é falso, perigoso e sobretudo anti-Evangelho, ou seja, anti-Cristo.
Deus é juiz, pois Deus é justiça, sendo que sua justiça flui precisamente de seu amor. Por ser Amor, Deus é um juiz amoroso! Deus exerceu seu juízo na cruz, em Cristo, pelo que negar o juízo de Deus significa negar o Cristo verdadeiro, o Cristo crucificado-ressurreto.
Também no ultimo dia da história, Cristo virá em juízo sobre os que não amam, a fim de inaugurar a plenitude do Reino do Amor, pelo aperfeiçoamento escatológico de todos e de todo o universo, que foi criado para o amor e não para a perversão. Deus tem de exercer juízo. 
Ainda bem que Deus exerce juízo e que o exerce como exerce, pois exercendo-o expurga o mal do universo; sendo ainda que o faz com muita paciência e mansidão, dando a todos sem exceção, através de sua graça, o privilégio de se entregar a Ele para viver num universo redimido de todo mal.
Por mais que life-coachers, gurus e pessoas que vendem auto-ajuda, pretendam enaltecer e glorificar o homem subtilmente, a verdade é que Deus exerce juízo e nós precisamos de arrependimento. Mas devemos também entender que o Deus-Amor é muito paciente e sobretudo eficiente e efetivo em nos transformar processualmente na graça de seu amor. Por isso Paulo fala de caminharmos de glória em glória e de fé em fé, em Cristo e no seu Evangelho. 
Falar do Pai e de Cristo como ambos sendo Deus-Amor, sem no entanto falar de Cristo ofertado em juízo de amor pelo Pai na cruz, para nos salvar e a partir daí nos dar de seu Espírito, o qual nos transforma à imagem de Cristo; é vã-glória, é vaidade, é apenas psiquismo e racionalismo humanista de pretensão espiritual, pois é apenas mais uma religião da Terra que tenta chegar a Deus pelos próprios recursos humanos.
Não nos equivoquemos, o Homem está mesmo caído, destituído da glória de Deus e afastado de Deus. Ora tal afastamento não é feito por Deus.
Deus não se escandaliza e nem se afasta. Deus não se escandaliza de nossa queda e de nossas falhas para com o Amor. 
A quebra do amor é o pecado, o qual não faz mal a Deus e jamais o escandaliza, pois Ele sabe bem do processo inevitável que conduz do primeiro e caído psíquico Adão, até ao segundo e derradeiro Adão -  Cristo, o Homem Espiritual. 
Deus está afastado de nós não geograficamente, pois Deus é omnipresente. Deus está afastado de nós Humanidade, porque a Humanidade é que se afasta de sua natureza e essência pura de Amor. Sim, a Humanidade afasta-se e Deus a busca através do Filho.
Portanto devemos nos regozijar porque somos queridos a Deus e Deus revela a loucura de seu amor para alem do bem e do mal, na cruz do calvário, onde histórica e tangivelmente foi encarnado tal Amor eterno por nós.  O Homem é a menina do olho de Deus, se me permitem o antropomorfismo, pois somos homens e comunicamos o inefável em linguagem de Homem.
Deus nos ama louca e intensamente e por isso criou o universo, para que sejamos sua família. 
Um deus que exerça juízo sem prévia paciência e sobretudo sem Amor que graciosamente nos salve, não é o verdadeiro Deus-Amor.
Um deus que pretenda ser o Deus-Amor, mas que não exerce juízo sobre o não-Amor e que sobretudo não encarna para em louco amor morrer  e ressuscitar por nós, a fim de nos salvar para o eterno universo do reino exclusivo de Amor, não é o verdadeiro Deus-Amor.
Ora por reação compreensível em repugnância para com o legalismo e fanatismo neo-farisaico, muitos rejeitam a verdade de que nós somos seres caídos, que precisam de se arrepender e cujos corações estão destituídos da glória de Deus. Caem no extremo do humanismo e gnosticismo que sempre afirmou a falácia de nossa bondade intrínseca e recursos interiores próprios para salvação.
O Reino de Deus está em nós, disse Cristo, mas temos de o buscar no Espírito, pois sozinhos não chegamos lá.
Não se pretende aqui agradar a neo-fariseus e nem a neo-gnosticos, ambos pensando que por si sós lá chegam, sendo que os primeiros creem que podem efetuar performance de perfeição ética, e os segundos julgam ter em si a bondade, a inteireza e os recursos espirituais para acessarem o Reino do Divino, sendo que ambos não reconhecem a sua queda e necessidade de salvação.
Ora Jesus é um médico enviado a toda a Humanidade, mas só salva os que querem consulta com ele, declarando-se doentes. Ora isto mesmo não é humilhar e aviltar a dignidade humana, é apenas realismo e verdade que permite que sejamos curados e sublimados por Cristo à condição de Humanidade perfeita.
Por isso precisamos de nos arrepender, sabendo que arrependimento é metanoia, que significa mudança de consciência. Mas esta mudança de consciência, apesar de não ser apenas sentir-se mal pelo que se fez de mal, é também isso.
A metanoia é uma transformação interior que é processual e envolve a totalidade do homem. Não é apenas sentimentos pelo mal do passado cometido, tipo remorso. Mas também não é apenas racionalizar destituído de emoções, que o que se fez estava errado e que agora se fará o que é certo. 
Metanoia, arrependimento, é mudar de consciência, sentindo que o que se fez foi mal, sentindo alguma tristeza para com o mal cometido, mas não tristeza de condenação. Deve-se sentir a tristeza de que Paulo falava aos corintios, o contristar operado pelo Espírito na nossa consciência que opera vida. Ficamos contristados pelo que fizemos, ganhamos consciência de como devemos ser, superamos a tristeza pelo perdão e consciência da graça e tornamos nos pessoas melhores. Mas passa por admitirmos nossas falências quer em termos de performance não ética, quer em termos de má gnose, má consciência.

Mas voltemos a Jesus e ao sermão do monte galileu e ás 10 bem-aventuranças.

Isaías profetizara que na Galileia, antiga terra das tribos de Neftali e de Zebulom, chegaria primeiro a luz do Messias, pois Deus em seu louco Amor julgara primeiro a Israel,  mas também salvaria primeiro a esta mesma região do norte de Israel: a Galileia.
Onde começara em amor a exortação, começara também em amor o juízo pelo não arrependimento diante da exortação; mas também aí começaria primeiro a revelação do Messias e do Amor da luz do Divino. E Deus manifesta-se também primeiro entre a Galileia das nações, ou seja, entre gentios, deixando para depois Jerusalém, a Judeia e o Templo; uma vez que Jesus começa seu ministério em Jerusalém na Páscoa, conforme vemos no evangelho de João, mas de imediato vai para a Galileia, onde se manifesta com mais intensidade.
Então Deus encarna em Jesus, o qual vive na Galileia, o qual é o Messias, pelo que na Galileia em trevas à mais tempo, chega primeiro a luz.
Quão loucos e lindos são os juízos de Deus!
Deus falou do Monte Sinai, deu a Aliança, mas em terrível som, com trovões e tremor de terra, com o povo cheio de medo pela presença da pureza e majestade Santíssima do Altíssimo. Moisés foi o veículo de temporária Aliança. Moisés profetizou que viria outro profeta como ele, no sentido de ser mediador de Aliança com Deus.
Mais tarde os profetas profetizam que o mediador da Nova Aliança será o Messias.
Israel percebe então que o mediador da nova Aliança, que será eterna, será promulgada pelo Messias, pelo que o Messias é também o Profeta de que falou Moisés.
Isaías vai mais longe e diz que o Servo Messias será morto, mas ressuscitará e justificará a muitos e seu nome será majestoso e altíssimo, sendo que tais títulos são prerrogativas exclusivamente divinas. Isaías profetiza que o Messias terá prerrogativas divinas - Isaías 52-53.

Vemos então Jesus, o Cristo, o Profeta mediador de uma Nova Aliança, que como Moisés, dá a Palavra da Aliança no Monte, mas desta feita não um monte terrível do deserto, mas antes um verde, bucólico e tranquilo monte da Galileia, na Terra Prometida.
No Sinai o povo não conseguia e não suportava ouvir a voz de Deus transmitir sua Palavra de Aliança. O ambiente era terrível, pois era tempo de primeiro o povo conhecer a Majestade, Pureza, Integridade e consequente Terribilidade da Plena Pureza Divina.
Agora o povo podia ouvir a voz de Deus transmitir a Palavra da Nova Aliança. O mediador como Moisés era Jesus, o Profeta, mas que era também o Messias, o Rei do Reino dos Céus. Jesus era também Deus, pois Isaías previra que o Messias teria prerrogativas divinas como já mencionei, alem de que em Jesus, Deus fala diretamente com o povo. Sim, Jesus é que fala a Palavra da Nova Aliança de Deus, pois Jesus é Deus e por isso a pode falar.
É num monte na Galileia, onde houve primeiro o juízo de Deus, no meio de gentios, que Deus decide ofertar sua Nova Aliança e a Palavra de seu Reino.
O povo escutava sereno e tranquilo. Deus Filho falava. Moisés dera 10 mandamentos, que o povo já percebera que eram Lei de mandamentos de amor para a comunidade. O povo já percebera que não os conseguira viver por si só, pois ter gnosticismo, conhecimento da Verdade, não chega para viver a Verdade.
Então o povo sabia que as ordenanças da Lei, eram mandamentos de amor, e era isso que ensinavam as escolas rabínicas, tanto a de HIllel, quanto a de Shamai.
O povo já entendera que não conseguia obedecer à Lei do Amor, e sabia do juízo que viera por isso mesmo. O povo esperava que o Messias viesse e que através dele Deus fizesse Nova Aliança, mas desta feita que eles a conseguissem viver. 
Eles sabiam que não conseguiam viver a Lei de amor. Alem disso eram oprimidos também por fora pelo jugo romano.
Mas vamos então ás bem-aventuranças, de nosso Novo Moisés, do Filho de Deus, que apresenta seu Decálogo como 10 motivos de exultação, 10 motivos de felicidade, 10 razões para ser alegre e verdadeiramente humano.
As palavra bem-aventurança é no original grego: Makarios. Esta palavra significa plenamente feliz.
Sim, agora podiam regozijar-se, porque seria possível viver a Lei do Amor.
Jesus propõe seu Decálogo de bem-aventuranças, como apontamento do que permite o Homem entrar no Reino de Deus, sendo que tal caminho começa no interior, é primeiramente intrínseco, depois então torna-se extrínseco, ou seja; Jesus como o Messias e Profeta, implementa a Aliança com Deus, que deve ser escrita no coração e não em tábuas de pedra, pelo que assim o povo poderá finalmente encarnar a Palavra de Deus que desce dos céus, conforme profetizou Jeremias.
Por isso as 4 primeiras bem-aventuranças são intrínsecas, de movimentos no interior do Homem, de consciência assimilada do Reino de Deus. As restantes 6 bem-aventuranças são o resultado das 4 primeiras, são a visibilidade do que sai do coração do Homem.

Vejamos então as 4 primeiras bem-aventuranças, que são como dizia intrínsecas, que são de inicio e entrada no Reino do Messias:

E Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos;
E, abrindo a sua boca, os ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os mendigos de espírito, porque deles é o reino dos céus; - Mateus 5:1-3.

Sim, a palavra no original é mais forte que pobres, é mendigos mesmo, gente completamente falida, gente em bancarrota, gente paupérrima, gente sem recursos alguns.
Começamos nossa caminhada consciente no Reino apenas se reconhecermos que somos caídos, que não temos dentro de nós recursos espirituais para ser felizes e para o Reino da Plenitude da Felicidade exclusiva do Amor.
Por mais que gurus e novas religiões o desejem, por mais que queiram glorificar o Homem, apenas em Jesus o Homem é dignificado e sublimado. Apenas em Jesus. E Jesus veio porque nós não damos conta do recado sozinhos. A história de Israel mostra que o povo não consegue viver a Verdade. A Verdade da Palavra é de natureza e essência contrárias à nossa natureza de essência egoísta, e isto porque estamos caídos. 
Nós sozinhos, dentro de nós, por mais que desejemos, não temos recursos psíquico-espirituais para chegar a Deus e à felicidade verdadeira.
Glória ao Cordeiro!
Nós entramos no Reino dos céus não porque somos bons, mas porque Deus é bom e supre nossas necessidades. O Homem é contrário à ética do divino que é Amor e altruísmo.
Felizes os mendigos de espírito, pois o mendigo reconhece que nada tem e que necessita e por isso pede, por isso implora com desejo intenso, que lhe seja dado o que lhe faz falta e é imprescindível. O Reino dos céus é dos que reconhecem que em si não há recursos espirituais nem psíquicos, que estão falidos, mas que desejam e pedem com intensidade que de graça lhes sejam dados os recursos espirituais do Reino dos céus. 
Ora sabemos da mensagem do Messias Jesus que tais recursos são seu próprio Espírito Santo.
Nem mais, sem o Espírito Santo o homem não é templo do Altíssimo, nada pode. Deus é que vem ao nosso encontro, morre e ressuscita pelo juízo que nos dizia respeito, de graça, sendo que na mesma graça nos dá de seu Espírito para que sejamos transformados à sua imagem. Isto é dignificar o Homem e é glorificar a Deus.
Começamos reconhecendo nossa extrema necessidade de recursos espirituais, que Jesus supre, pois dá-nos o Espírito de Deus e nEste oferta-nos o Reino dos céus.


Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; - Mateus 5:4.

E quando recebemos de seu Espírito, tornamos nos ainda mais despertos e sensíveis à nossa bancarrota espiritual e à nossa falência psíquica e existencial. Mas essa tristeza é consolada pelo Consolador que nos foi dado por sermos mendigos do espiritual. Sim, o Espírito faz-nos ver nossas misérias e bancarrota, supre nossas necessidades e não nos deixa em condenação, pois Ele consola-nos. Ora a consolação depende da Esperança e a Esperança sabemos que é confiar e esperar o melhor de Deus por vir, ao nosso interior e ao universo.
E é isso mesmo que o Espírito de Deus faz, Ele consola-nos, perdoando-nos, motivando-nos a melhorar, transformando-nos, fazendo de nós pessoas melhores e à imagem do Filho, algo que nós por nós mesmos jamais seriamos capazes. O Espírito consola-nos, mostrando o que seremos, o que poderemos fazer de bom nEle e o que o mundo será no futuro.


Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; - Mateus 5:5.

Agora suprida nossa necessidade espiritual pelo Espírito de Deus, consolados por Ele pelo perdão e motivados por um nosso ser melhor e por uma sociedade melhor, tornamos nos mansos e humildes. Pois fomos mendigos e consolados, entendemos que o salmo que fala de herdar a Terra mansamente, é um salmo messiânico que ensina que na Lei do amor está no dar e ofertar, em vez de negociar, vender, possuir, comprar, consumir, acumular.
É num ser livre de consumismo e de ser possessivo, é num ser que não pretende conquistar coisas para si, é num ser que não vê as coisas como minhas, mas antes como nossas; é neste ser que está a felicidade e é a este ser que Deus dará a Nova Terra. Como dizia Paulo, tudo o que é de Deus é de Cristo e tudo o que é de Cristo é nosso. 
Já não há elites, todos somos seus cooperadores e sacerdotes. Todos somos reis da Terra com Ele, sentados com Ele nos lugares altos, seus co-herdeiros. Tudo é nosso porque a nada nos apegámos e tudo pretendemos ofertar, logo as coisas são nossas em vez de as coisas nos possuírem, pois quando as coisas nos possuem, não as conseguimos dar.
A condição mansa e humilde erradica o ser o desejo de competição, de ser predador, de ser o maior, de possuir, de conquistar, de violência, de opressão. Por isso já na própria Antiga Aliança, a Lei mandava cuidar do estrangeiro, partilhando com ele a terra, assim como a terra era distribuída por todos equitativamente; sendo redistribuída novamente sempre que necessário, pois quando alguns acumulavam e ficavam com terras de outros, nos anos de jubileu e de 7 em 7 anos, dividas eram perdoadas e equidade era implementada para que todos tivessem o mesmo e a mesma dignidade.
Não seria diferente com o Messias, pois ele não vinha abolir a Lei, mas antes vinha sublima-la, ilumina-la e implementa-la nos corações dos homens.
Todas as nações que se dizem cristãs e fazem guerras de conquista de terras em egocentrismo e etnocentrismo, são na verdade discípulas de um anti-cristo. Todas as comunidades sem igualdade e equidade são comunidade de um falso cristo.



Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; - Mateus 5:6

Esta é a ultima bem-aventurança intrínseca, que abre porta para as exterioridades do homem que é justo e espiritual e o manifesta no exterior sem hipocrisia.
A palavra no original é Dikaiosunê - que significa uma justiça de equidade, de imparcialidade.
Ora o homem que era mendigo do Espírito, que foi Consolado chorando suas misérias e iniciou processo de transformação sendo manso e humilde, é ainda esfomeado e sedento de justiça. Porquê? Ora muita gente tem confundido este fome e sede de justiça, como o desejo de alguém, que sendo um discípulo de Cristo que sofre perseguição e injustiças, clama a Deus para que se lhe faça justiça. Mas não é isto que Jesus aqui afirma. O que Jesus aqui afirma é precisamente o contrário. A questão do individuo que sofre injustiças e pede justiça a Deus é mencionada por Cristo, mas apenas na bem-aventurança numero 8, a que é a 4ª bem-aventurança exterior, de obras exteriores.
Então do que trata esta fome e sede de justiça?
Ora esta fome e sede de justiça trata da verdade de que em nós não há recursos e é recorrente este sentimento nos santos, assim como é bom que se o tenha sempre antes de começarmos nossas boas obras. 
Jesus fala da justificação pela graça, ou seja, da justificação que há em Cristo, nos seus méritos e perfeição e que nos são imputados a nós injustos e imperfeitos. Não esqueçamos que para ser injusto basta cometer uma injustiça e que para ser justo é necessário não cometer nenhuma injustiça nunca e portanto ser perfeito e infalível.
Antes de começar a falar das bem-aventuranças, ou seja, da felicidade daquele que faz boas obras no Reino, antes disso, Jesus lembra que o individuo feliz do Reino, é o que antes de fazer boas-obras tem sempre consciência de que é imperfeito e que necessita sempre de ser justificado pela graça. O individuo novamente reconhece suas limitações, sua imperfeição, suas lacunas, suas vulnerabilidades, sua necessidade do auxilio divino. 
Esta felicidade não é a de um individuo que vive em condenação, mas a de alguém que em alegria e felicidade reconhece sua fome e sede de ser justificado pela graça, pois reconhece que em si não há justiça, porque a justiça divina é perfeita.
Antes de fazer boas obras justas, o justo lembra que foi mendigo do Espírito, que foi Consolado, transformado em alguém humilde, mas que ainda assim não conseguiu ser perfeito e que o bem da justiça tem de lhe ser imputado gratuitamente por Deus.
O individuo reconhece sua fome e sede de justiça, que no original tem a ver com justiça de equidade, sabendo nós que por melhores que sejamos, por mais que tenhamos sido transformados, continuamos ainda a ser pessoas com egoísmo. É verdade que estamos a ser transformados. É verdade que melhoramos, é verdade que nossa consciência mudou, mas também é verdade que ainda não somos Cristo, ainda temos o ego a ter de ser constantemente crucificado e ainda falhamos. Sim, ainda falhamos, pelo que precisamos de como Paulo viver de fé em fé no Evangelho que nos justifica gratuitamente em Cristo, no poder do Evangelho.
Sim, temos já consciência do Reino, temos já o Espírito e somos consolados, por isso somos humildes e mansos, reconhecendo que ainda há injustiça em nós e por isso não somos ainda como Cristo, pelo que estamos esfomeados e sedentos de justiça de equidade em nós.
O ser egoísta não é de justiça e equidade, pois é parcial e está mais centrado em si que no próximo, ainda que seja já do Reino.
Paulo dizia aos filipenses: quanto a mim não julgo que o haja alcançado, mas uma coisa faço, a qual é, esquecendo-me das coisas que para trás ficam, prossigo para o alvo, que é a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
O cidadão do Reino, mendigou o Espírito e o recebeu, chorou suas misérias e foi Consolado, por isso se tornou manso e humilde, sendo que nesta humildade, reconhece diariamente, constantemente, que está num processo, que é ainda alguém imperfeito, pelo que está esfomeado e sedento por ser justificado. Ora só pode ser justificado no Messias Cordeiro. A nenhum homem é comunicada justiça e equidade sem ser gratuitamente pelo Cordeiro.
Então, pela graça, o sedento e esfomeado de justificação de equidade, é fartamente alimentado por Deus. Fica de barriguinha cheia, pois em Cristo está toda a justiça justificadora. gratuitamente.
Então nesta condição de consciência de necessidade do Espírito, no Consolo das misérias perdoadas e da humildade adquirida, o cidadão do Reino com a Esperança do Consolo, prepara-se para manifestar sua condição feliz e do reino ao exterior, pelas suas boas obras, não sem antes se lembrar sempre de que também ele necessita de gratuitamente ser justificado.
Nesta altura do processo, já o cidadão do Reino tem a Lei do Amor da Nova Aliança do Messias escrita em seu coração.


Vejamos as 6 felicidades exteriores, a manifestação visível da Aliança escrita no coração:


Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; - Mateus 5:7

Esta é a primeira felicidade manifesta ao exterior do homem feliz: a misericórdia.
O individuo tendo passado pelo processo de reconhecer sua falência espiritual, tendo sido consolado, tendo sido motivado pela Esperança, tendo sido transformado pelo poder de Deus em alguém manso e humilde, reconhecendo sua justificação gratuita em Cristo, não tem outra alternativa coerente que não seja a de ser misericordioso.
Ora se ele é perdoado, se tudo lhe é dado gratuitamente, como não perdoar também os outros.
Por isso, ele agora tem boas obras, as quais começam por partilhar o que recebeu: a misericórdia de Deus. O reconhecimento da universal falência da humanidade, assim como o juízo da Humanidade em Cristo, e a oferta universal do Espírito.
Quando Jesus aparece em Israel e começa a perdoar pecados, exercendo misericórdia, os religiosos escandalizam-se porque só Deus é juiz e logo só Deus pode perdoar. Mas também apenas o juiz pode condenar, sendo que se só Deus é juiz, só Deus pode condenar, no entanto eles tinham ministério de condenação.
Foi radical a inserção do perdão por parte de Jesus. O karma foi quebrado. Foi uma revolução cósmica, verdadeiramente.
Ainda hoje a psicologia vai descobrindo as consequências psíquicas e sociais da culpa. São devastadoras, tornando a vida dos homens miserável, criando divisões, opressões, suicídios, homicídios, infelicidade, neuroses, etc...
A solução para a culpa, não é o que os gurus desta nova de retorno ao metafisico preconizam, de se deixar de falar de culpa, deixar de falar de falhas, deixar de falar da queda Humana, deixar de falar da maldade humana, etc...
Não é solução a dos gurus e life-coachers, porque não falar da culpa, não resolve o problema, antes desumaniza o homem, tornando-o alienado da ética e da realidade.
A solução é a misericórdia do amor de Deus!
Jesus foi revolucionário, pois nenhum dos éticos da espiritualidade que o precederam tiveram tamanha ousadia e sobretudo revelação.
Buda, assim como o hinduísmo, afirmavam que teríamos de reencarnar e sofrer para expiar nossas culpas. Que devaneio e falta de graça. Mas compreende-se, pois Sidarta foi chamado de Iluminado, mas não era a luz do mundo. A luz do mundo foi profetizada por Isaías na pessoas do Messias, 200 anos antes de Sidarta.
Não é uma condenação ao budismo e nem a nenhuma religião. Compreendo e valorizo a defesa ética destas religiões, assim como compreendo que seus fundadores não são Deus, sendo que por isso jamais poderiam resolver este problema. Este problema só Deus o poderia resolver, encarnando e morrendo por nós, a fim de queimar o Karma, para nos dar o Espírito, o qual nos transforma à imagem de Cristo.
Então a misericórdia é o enorme privilégio que temos de exercer o chamado divino do Reino, embaixadores da reconciliação com Deus, dizendo que em Cristo, Deus não imputa aos homens os seus pecados.
A misericórdia é uma enorme bem-aventurança. A misericórdia é o perdão divino manifesto aos homens, por intermédio de homens, a fim de os libertar da culpa e de suas nefastas consequências já referidas acima.
A misericórdia é manifesta por quem reconhece que precisa dela todos dias, não podendo por isso condenar os outros. Ora propor ás pessoas um melhor caminho, é profecia, mas condenar as pessoas sem espaço para o perdão e mudança, é diabólico.
Ao pecador mais hediondo deve ser pregado que Deus o perdoa em Cristo.
Comunidades de pessoas em nome de Cristo, que não exercem assídua e universalmente a misericórdia, são comunidades do anti-cristo.
O cidadão do Reino reconhece que seu crescimento e transformação devem-se aos recursos do Espírito que lhe foram concedidos gratuitamente. O cidadão reconhece nesse processo, a sua ainda constante imperfeição, pelo que por isso tem fome e sede de ser justificado gratuitamente, e ao sê-lo, nessa felicidade, parte para a maior felicidade de comunicar tal misericórdia ao próximo.
A comunidade da misericórdia é a comunidade que é a sociedade toda feliz.



Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; - Mateus 5:8

Por tudo o que foi dito antes, o cidadão em tal processo de transformação, vê seu coração ser limpo. Ora sabemos que é do coração que procedem as saídas da vida. O limpo de coração é verdadeiramente feliz, bem-aventurado, pois pode agora contemplar a Deus.
Sabemos que da pureza de coração procedem os bons atos humanos. A partir de agora o cidadão atua como quem vê a Deus, atua como Estêvão, como Paulo e os demais. 
Não é dissociado disto o facto de Jesus ser Deus e de se identificar com os pobres, vulneráveis, quebrados e marginalizados da sociedade. Deus só pode ser visto no próximo.
O cidadão reconhece o que Deus fez nele que era e é mendigo de Espírito e esfomeado-sedento de justificação gratuita em Cristo. Por isto dito, o cidadão reconhece Deus em si, vê a imagem do divino começar a ser restaurada em si, seu coração é limpo por Deus e começa assim profeticamente a olhar o próximo, enxergando o que Deus já é no próximo, ainda que de forma caída, mas vê sobretudo o que o próximo poderá ser se conhecer o Amor divino que tem para lhe revelar, começando por seu olhar.
O cidadão começa a ver o valor a vida humana, crendo que esta pode ser restaurada, pois experimentou-o ele mesmo, de forma que contempla profeticamente o divino na vida do próximo.
Como poderia ele amar a Deus a quem vê se não amasse o próximo a quem vê e com os quais Jesus Deus Filho se identifica?
O cidadão que passa pelo processo de constantemente se sentir dependente e necessitado de Deus, vê seu valor restaurado e passa a ver o valor do próximo, pelo que olha e vê primeiro o bem no próximo. O cidadão olha com Esperança, vendo no próximo o bem de Deus que já lá existia, vendo apenas depois o mal, sendo que ainda assim, o olha com misericórdia e sempre com Esperança.
O olhar do cidadão do Reino é limpo e puro, não vê apenas o mal e nem tem prazer no mal no próximo.
Da limpeza de coração procedem as dinâmicas da vida e a contemplação do divino no próximo.



Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; - Mateus 5:9-10

Outra grande felicidade, que Francisco de Assis, Tolstoi, Gandi, Martin Luther King Jr e outros experimentaram.
O pacificador é aquele que traz paz. A paz é comunicação da paz interior, mas tem de se manifestar exteriormente.
A shalom hebraica, que traduzimos por paz, era dependente da paz social, pois a paz social era a justiça individual e comunitária de todo Israel. Quando o povo obedecia ás ordenanças de amor da Lei, havia equidade e justiça social, todo o individuo era dignificado e cuidado, tendo o que era essencial à vida. Era uma comunidade que vivia em paz, sem assimetrias económicas, sem miseráveis e sem pobres, sem elites opressoras, com todos a ter o mesmo acesso a a educação, trabalho, terra, etc... 
Todos tinham os mesmos direitos e deveres. Todos eram cuidados, especialmente os vulneráveis como viúvas e órfãos. Os estrangeiros deveriam ser tratados como eles israelitas gostariam de ter sido tratados no Egito, de acordo com a ordenança em Levítico.
A paz depende do equilíbrio psíquico de todos indivíduos consigo mesmos, com Deus e com o próximo, criando assim uma sociedade justa e em paz.
Ora quando Jesus veio, não havia paz social, pois os romanos oprimiam económica, cultural, política e etnicamente os judeus. O que Jesus fez foi dar-lhes do Espírito que traz a paz de Deus, intima, não dependente de condições exteriores, mas que os conduziria a promover a paz social. Foi isso que a Igreja fez e vemos em Atos dos apóstolos, pois tinha tudo em comum, cuidavam de todos sem exceção e sem aceção de pessoas, criando assim uma comunidade justa e de paz social de equidade, no meio de uma sociedade injusta.
Ora foi isto mesmo que Gandi e Martin Luther King Jr fizeram, entre outros, pois não se conformaram com as desigualdades sociais, que oprimiam e tornavam infelizes muitas centenas de milhares de indivíduos.
Falo deles porque eles são bom exemplo de pacificadores, pois foram pessoas pacificas, que não respondendo ao mal com mal, nem à violência com violência, ainda assim pacificamente denunciaram as injustiças sociais, que roubavam a paz à sociedade.
Eles conseguiram-no, com coragem e sem medo da morte.
Foi também isso que Jesus fez por excelência.
Foi isso que a Igreja primitiva também fez, criando uma comunidade fraternal e igualitária, dentro de uma sociedade injusta, a qual denunciavam com seu puro estilo de vida, assim como com denuncia verbal, nunca destituída de amor e misericórdia no tom.
Uma comunidade de indivíduos em nome de Cristo, que apenas se juntam e manifestam socialmente contra o aborto e homossexualidade, mas que não se juntam para marchar nas ruas e denunciar o capitalismo, a corrupção, a má educação, o mau serviço publico de saúde, o desprezo pelos estrangeiros, assim como todas as injustiças e assimetrias sociais, tal comunidade não é de Cristo; mas antes é do anti-cristo, pois a comunidade do anti-cristo é apoiada por seus discípulos e é comunidade que monta um estado que faz guerras e explora países e seus próprios cidadãos em assimetrias nacionais e globais.
O verdadeiro cidadão do Reino chega aqui ao ponto de lutar pacificamente contra as injustiças sociais que roubam a paz dos indivíduos e consequentemente a paz social.



Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.
Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós. - Mateus 5:10-12

Estas 3 ultimas bem-aventuranças, são o culminar cristico da plenitude da felicidade. É até loucura falar disto, sem o ter vivido em sua mais radical forma, a qual é o martírio, mas o Espírito nos leva a entender. Percebe-se que quando Estêvão está a ser julgado e prestes a ser martirizado, que ele já está mais com os pés noutra dimensão do que aqui. Percebe-se que ele está já possuído de uma alegria e êxtase, assim como ausência total de medo, que são inexplicáveis à mera racionalidade e psicologia. Estêvão estava completamente em sintonia com o Espírito, contempla já o Messias, sabe que vai partir, e na morte perdoa seus inimigos.
Isto é incompreensível para nós, mas na fé se percebe.
Os cidadãos que chegam a este estágio de transformação espiritual, estão já em tremenda comunhão com o Espírito. Veja-se Paulo e outros, como Pedro, que quando perseguidos e espancados, regozijavam-se por sofrer em nome de Cristo, ou seja, no propor do Reino.
Intui-se pela fé que tal gozo advém precisamente pelo crucificar intenso e tremendo do próprio ego, que é instintivo, auto-promotor e completamente auto-preservador. Quando o individuo já não teme a morte, quando imita Cristo de forma genuína na proposição do Reino, então é verdadeira e totalmente feliz.
O ego com suas dinâmicas de auto-preservação e auto-promoção, leva-nos paradoxalmente a ser infelizes, quando o que mais deseja é ser feliz, mas seus instintos são contrários à Verdade. Só a Verdade faz feliz e a Verdade é o altruísmo do Amor do Reino. Nós queremos desesperadamente ser felizes, mas paradoxalmente boicotamos nos, deixando-nos levar pelos instintos do ego.
Por isso quando chegamos ao ponto de crucificar o egoísmo radicalmente, com consciência pacificada, sem vaidade, aí acontece inexplicável Felicidade e Bem-aventurança.

Por isso resta-nos exultar e alegrarmos nos pelo Reino que está proposto, mas para tal temos de pegar nossa cruz e segui-Lo no Caminho da crucificação do ego.
Não tenhamos medo, o ego só boicota nossa felicidade.
Tenhamos coragem, não depende de nós e nem de nossos recursos, mas sim do Espírito e da obra do Cristo, nosso Senhor Jesus.

No demais, Jesus continuou sua explanação do sermão do Monte, relembrando a Lei e seus mandamentos de amor, mas frisando que têm de ser verdade interiorizadas. 
Moisés teve sua síntese da Lei da Velha Aliança no Decálogo e também depois a Lei aplicada ás mais variadas circunstâncias da vida quotidiana do povo.
Da mesma forma Jesus, o Messias Profeta, o Filho de Deus, o mediador de uma Nova, Melhor e Eterna Aliança, dá-nos a Lei desta mesma Aliança, não abolindo a Antiga; mas antes cumprindo-a, sublimando-a, iluminando-a, escrevendo-a em nossos corações pelo seu Espírito, no qual falou seu Decálogo de 10 bem-aventuranças, assim como também depois fez exposição ao quotidiano da vida do povo dos mesmos princípios das ordenanças da Lei do Amor.
Jesus traça aqui o seu próprio retrato, o do Homem plenamente feliz e alcança tal felicidade começando por a falar no monte da Galileia e encarnando tal felicidade e Verdade no monte do Golgota.

J.P. Maia, a viajar no Espírito até ao sopé do florido e verdejante Monte da Galileia, longe do inóspito Monte Sinai, ouvindo o seu Messias, que está sentado, tranquilamente falando a Palavra da Lei do Amor, hoje compiladas nas Escrituras Inspiradas, em fins de Maio de 2014.